Artigo

Um novo conceito em reabilitação oral: 2 and 2 Concept

Publicado em 01-07-2019

Autor(es)
Luis Gustavo Barrotte Albino, Osmar Gradinar, Paula Cardoso, Rafael Decurcio
Palavras-chave
reabilitação oral, dimensão vertical de oclusão, DVO

Resumo

Dimensão vertical de oclusão (DVO), relação cêntrica (RC), máxima intercuspidação habitual (MIH), oclusão em relação cêntrica (ORC), disfunção temporomandibular (DTM), parafunção e outras tantas definições são temas de dissertações que produzem grandes discussões e debates acadêmicos intermináveis desde o surgimento da Sociedade Gnatológica, fundada por McCollum em 1926. Diversas são as escolas filosóficas e maiores ainda são as possibilidades clínicas que os conceitos nos apresentam, muitas vezes nos ofertando mais dúvidas que certezas. São como “velhas verdades” nos campos da prótese dentária, DTM e oclusão, podendo ser caracterizadas como dogmas baseados mais em crenças do que em ciência, e o conhecimento parece estar sob o domínio de “profetas” da boa oratória. Sem boas evidências, é difícil tomar decisões clínicas! Há, portanto, necessidade de mais pesquisas utilizando estudos sistematizados e controlados para poder responder às muitas questões controversas que ainda restam. Em lado antagônico e protagonista desse processo, temos o paciente, acometido por enfermidades oclusofuncionais que geram perda de função, estrutura dental, capacidade fisiológica e desequilíbrio total do sistema estomatognático, sem que sigam qualquer ordem cronológica de acontecimento.

Traçar objetivos comuns, promovendo um amálgama de interesses, preconizando o estabelecimento de métodos que possam ser aplicados e replicados na rotina clínica, se torna imperativo. Uma vez que a compreensão completa da etiologia do estado atual da dentição é apreciada, um plano de tratamento pode ser formulado levando em conta o número de dentes a serem tratados, a posição condilar, a disponibilidade de espaço, a DVO e a escolha do material restaurador ideal.1 Em 2006, Spear descreveu claramente os princípios da DVO e concluiu que os pacientes podem operar em muitas dimensões verticais aceitáveis, desde que os côndilos funcionem a partir da relação cêntrica e que o complexo articular seja saudável e assim permaneça.2 O autor afirma que “a dimensão vertical é uma posição altamente adaptável, e não existe uma única dimensão vertical correta”. Conclui que a melhor DVO é aquela que satisfaz os desejos estéticos do paciente e os objetivos funcionais, com abordagens mais conservadoras.

Todavia, determinar a relação cêntrica passa a ser o ponto de partida para qualquer planejamento reabilitador, seja com jig de Lucia, lâminas de Long, dispositivos interoclusais ou qualquer outro método capaz de promover a desprogramação neuromuscular, para devolver aos pacientes conforto fisiológico ao longo da vida.

O objetivo do presente artigo é apresentar, ilustrada por um caso clínico, uma forma racional e reproduzível de reabilitar pacientes com perda de DVO mediante um novo conceito. Assim, descrevemos o conceito “2and2 Concept” e, através dele, buscamos nas evidências científicas as especificidades mecânicas e funcionais de cada setor/ grupo de dentes atrelado às características físicas e à longevidade de cada material. A área posterior, setor responsável pela absorção da carga mastigatória, foi restaurada com materiais que absorvem forças compressivas, portanto resilientes; e a anterior, setor responsável direto pela desoclusão, através das guias anteroposterior e laterolateral, e pela manutenção da RC e estabilidade morfológica dos caninos, foi restaurada com cerâmica, por apresentar mais resistência estrutural no roçar do deslizamento. Como resultante, procuramos levar a nossos pacientes o correto funcionamento do sistema estomatognático, com mínimo desgaste, eficiência mastigatória e conforto fisiológico.